sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Carlos Drummond de Andrade




'Satânico é meu pensamento a teu respeito,
e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão,
numa sede de vingança incontestável pelo
que me fizeste ontem.



A noite era quente e calma e eu estava em minha
cama, quando, sorrateiramente,
te aproximaste.
Encostaste o teu corpo
sem roupa no meu corpo nu,
sem o mínimo pudor!



Percebendo minha
aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e
mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares.



Eu adormeci.



Hoje quando acordei,
procurei-te numa ânsia ardente,
mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol,
provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu
durante a noite.



Esta noite recolho-me mais cedo,
para na mesma cama te esperar.
Quando chegares,
quero te agarrar com avidez e força.



Quero te apertarcom todas as forças de minhas mãos.
Só descansarei quando vir
sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti,



pernilongo Filho da Puta!'

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